George Orwell

futuro, todos os suicídios serão filmados.

que nos distingue dos outros animalejos é esse cérebro virado para a polis, cérebro que é feito para ver mais do que as próprias mãos e o reflexo no espelho ou a presa comestível à sua frente.

É no espaço doméstico que se faz a política e por isso já não há espaço doméstico;

está todo no Mil Novecentos e Oitenta e Quatro. Há os que vêem mas não são vistos, há os que são vistos e não vêem. Carrascos e vítimas, vigilantes e vigiados.

está todo no Mil Novecentos e Oitenta e Quatro. Há os que vêem mas não são vistos, há os que são vistos e não vêem. Carrascos e vítimas, vigilantes e vigiados.

De facto, entre o muito que o Mil Novecentos e Oitenta e Quatro nos deixou, ficou também este lembrete: cuidado, no controlo da linguagem está algo de essencial — não se trata de controlar letras, mas modos de pensar.

no século xxi, os olhos não têm pupilas, têm algoritmo — os algoritmos são os olhos técnicos que te vigiam.

aquele que vê entra, no século xxi, com o estatuto da cegueira: só vê o que está à sua frente, o desactualizado.

No fim, um cartaz colorido, grande demais para ficar à mostra num ambiente fechado, preso à parede.

Qualquer ruído que Winston fizesse mais alto que um sussurro bem baixo seria captado. Além disso, enquanto permanecesse no campo de visão da placa de metal, ele também poderia ser visto, além de ouvido. É claro que não havia como a pessoa saber se estava sendo
vigiada.