A construção de um poeta é mais inteira e real quando se ergue para além das palavras. Assim é Marlon Marcos. Cambaleante entre a irregular forma do dizer e o profundo conteúdo que o habita e o perfila em sua trajetória existencial. Sua poesia nasce da audição. Da canção popular. Da voz e dos poemas musicados de Caetano Veloso — senhor absoluto dos seus aprendizados nascentes e crepusculares. Alguém que tem a palavra como norte e tela dos seus sentimentos. Que, às vezes, fala do centro da academia para negá-la. Um ser clariceano, pesado e leve, vinculado a uma baianidade amadiana, sim, mas centrado em sua naturalidade negro-mestiça que o construiu como sensibilidade e voz solitária e destoante da normalidade que engana a todo mundo. Como água a se soltar rumando contra tudo e querendo, como Iemanjá, salvar tudo.
Dos amores almejados, dos muitos irrealizados, nasce este livro-cinzas. Compósito do fruto estranho das relações entre iguais que faz emergir a inspiração.