“O mar de fora e o mar de dentro” é a expressão usada em Fernando de Noronha para diferenciar as águas que separam o arquipélago do continente e as que se abrem para o Atlântico. Além disso, resume o embate que dá força ao ótimo Presos no paraíso, romance de estreia de Carlos Marcelo.
O passado e o presente se enfrentam a todo instante no conjunto de ilhas, que também é um microcosmo do Brasil: a beleza natural e o frenesi dos turistas convivem com as mazelas sociais e políticas do país.
Tobias, historiador que vive entre a expectativa do futuro e as angústias do passado, narra em primeira pessoa sua incursão no arquipélago para elaborar roteiros turísticos. Ele integra a bem montada galeria de personagens na qual se destaca o delegado Nelsão, responsável pela investigação de duas mortes misteriosas, com seus cacoetes investigativos e sua compulsão gastronômica.
A riqueza das subtramas e dos personagens secundários, contudo, exigia ponto de vista menos limitado. Assim, o grande lance literário do romance é deslizar, em certos momentos e sem solavancos, para a narração em terceira pessoa.
Presos no paraíso é um mergulho inesquecível para os amantes da boa literatura policial. Mas atenção: os tubarões de Noronha estão à solta!